Boina Preta
Breve explicação ao leitor: este capítulo estaria no livro, mas para conseguir terminar no prazo que eu estipulei para mim mesmo, decidi pular este capítulo que estaria entre o retorno do Pelado da viagem de carona (6), para o capítulo de encerramento (7). Divirtam-sem com a leitura.
AVISO: esta é uma obra de ficção. A opinião dos personagens não representa a opinião do autor. Se você é influenciável ou sensível, não leia.
"A universidade é pública, mas tem dono"
Caderno de anotações - Pelado
Depois de uns dois dias de descanso e boa alimentação em Bragança Paulista, era hora de voltar para o campus em Bambuzal.
A viagem me deixou num processo de profunda reflexão. Como isso foi possível? Como tudo isso aconteceu?
Aquelas conversas com os caminhoneiros me fizeram pensar cada vez mais que não dava pra voltar à vida anterior. Tantas vidas trocadas por bens materiais, eu não faria isso com a minha e tenho certeza que a Thati também não quer isso pra ela.
Que sentido faz trocar horas de uma vida real, no aqui e agora, por dinheiro, que será trocado por mercadorias, que não levamos conosco depois dessa existência. Mercadorias que se desvalorizam com o passar do tempo, que se desgastam e quebram.
Minha vontade de não apenas viver nas brechas do sistema, mas de combatê-lo aumentava.
E foi pensando nisso tudo que eu cheguei no mês de julho na moradia estudantil. Alguns estudantes perdidos por lá e pelo campus, agora sem pressa, sem a necessidade de correr de uma aula para outra, sem trabalhos para entregar ou apresentar.
Nesse período pude conhecer melhor a história de muitos deles, e trocar ideias mais à fundo sobre assuntos mais sensíveis.
Todos gostaram dos meus relatos da viagem de carona, das conversas com os caminhoneiros. Da solidariedade dos estudantes de outras universidades e faculdades ao nos receber, sem nem ao menos nos pedir um cartão universitário para verificar se éramos mesmo estudantes.
Todas essas conversas foram revigorantes e edificadoras. Só uma coisa não estava certa.